Treinamento Repetitivo Papel no Diagnóstico |
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Por Frederico Moura 21 de Agosto de 2019 |
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No final do curso "# Nao eh neurite" realizado no dia 14 de agosto de 2019, entre várias dicas práticas para o diagnóstico das doenças, eu disse que "avaliar a presença do defeito pupilar aferente relativo (DAR) é essencial para o diagnóstico diferencial entre neuropatias ópticas e doenças da retina, assim como as informações da anamnese". |
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No dia seguinte, fiquei me perguntando se eu consegui realmente transmitir aos participantes alguma informação nova e útil que pudesse ajudá-los no diagnóstico diferencial das doenças neuroftálmicas. Ao lembrar da minha fala do parágrafo acima, fiquei com a sensação de que não tinha falado nenhuma novidade. Pior: conclui que eu falo sempre as mesmas coisas de forma repetitiva! |
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Repetição - uma palavra que nos remete a situações chatas e pouco prazerosas, mas que tem um poder intrínseco imenso no desenvolvimento de habilidades. Já escrevi um pouco sobre isso em outras newsletters (aqui e aqui). |
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Os fatos abaixo são exemplos do poder da repetição: - Michael Jordan diz em sua biografia que errou mais de 9 mil arremessos na sua carreira;
- Picasso produziu cerca de 50 mil peças de arte;
- Charles Schutz produziu mais de 17 mil "tirinhas" do Charlie Brown;
- Jimi Hendrix gravou cerca de 70 discos durante sua carreira.
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Acho que as personalidades acima são razão suficiente para acreditar no poder do treinamento repetitivo. Mas concordo que a repetição continua ainda uma atividade pouco prazerosa (pelo menos a curto prazo). |
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Então, o que faz algumas poucas pessoas continuarem o treinamento de forma exaustiva enquanto a maioria desiste? Antes de abordar esta questão vejam abaixo o TED sobre autocontrole do psicólogo comportamental Dan Ariely. |
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Segundo Ariely, nós temos dificuldade em realizar tarefas que só vão dar resultado a longo prazo. Preferimos àquelas que nos recompensam a curto prazo. Hoje ou, de preferencia, agora. No vídeo, ele dá exemplos como o da caixa de chocolate Lindt e até o próprio testemunho sobre o tratamento para hepatite C com interferon. Quando ele diz que "somos pessoas melhores no futuro do que no presente" é um tapa na cara por cometermos diariamente o autoengano de não realizarmos hoje com a promessa de realizar amanhã. |
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No parágrafo inicial, eu falei sobre o DAR e anamnese, mas podemos extrapolar esta questão da recompensa a curto ou longo prazo para qualquer processo utilizado para adquirir uma habilidade, seja ela diagnóstica ou terapêutica. Se você possui uma (ou mais) habilidade em nível acima da média, certamente você lembrará das inúmeras vezes que você a praticou. Curioso que muitas vezes fazemos isso sem pensar. "Faço porque gosto"- é a justificativa mais frequente. Durante a residência em oftalmologia, a cirurgia de catarata não exercia em mim um efeito positivo tão forte quanto o de acertar o diagnóstico de uma doença neuroftálmica. |
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O problema aparece quando não enxergamos uma recompensa para suportar realizar a atividade não-prazerosa de forma repetida. Segundo Ariely, a solução é a "substituição da recompensa". Isto significa encontrar uma recompensa a curto prazo para aquela tarefa, mesmo que esta recompensa não esteja relacionada a tarefa. Sim, a solução é enganar seu cérebro ou mindset (que é o termo mais utilizado atualmente). No vídeo, Ariely condicionou os dias das injeções de interferon (que causavam 16 horas de efeitos colaterais) com o prazer de assistir filmes. Assim, para ele aqueles dias eram os dias de assistir filmes (em vez dos dias de passar mal). |
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Outro ponto importante é o fato que uma atitude repetitiva não ter data ou hora marcada para dar certo. Evite fazê-la esperando uma data certa para receber a recompensa. Existe um pensamento anglo-saxão que diz : "Quando nada parece ajudar, eu vou e olho para um pedreiro martelando sua pedra talvez cem vezes sem nada acontecer com a pedra. No entanto, no centésimo primeiro golpe, ela se dividirá em dois, e sei que não foi esse golpe que o fez, mas tudo o que aconteceu antes". |
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Quer melhorar o nível da sua habilidade no diagnóstico das doenças neuroftálmicas? Apenas pratique com prazer e sem olhar para o relógio. |
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Referências - Biografias - Famous People Biography - Link
- The Stonecutter's Creedo - Link.
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