Hipertensão Intracraniana Idiopática em pacientes com idade acima de 50 anos |
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Por Frederico Moura 02 de junho de 2021 |
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"Doença não lê livro de medicina!". |
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Eu ouvi esta frase apenas uma vez. Foi o suficiente. Até hoje eu tenho ela como um "mantra" da minha profissão. |
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No início da minha carreira na Neuroftalmologia, eu era completamente influenciado pelos preconceitos associados a esta especialidade: "difícil entendimento", "doenças raras" e "de diagnóstico difícil". Esta era a opinião da maioria. |
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Esses preconceitos se materializavam nas discussões dos casos clínicos que ocorriam nos congressos onde os apresentadores disputavam inconscientemente (ou não) quem apresentava o caso mais raro da ocasião. |
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Hoje, após anos de prática, consigo ver a Neuroftalmologia com mais clareza e atesto que ela é vítima do preconceito de "especialidade dos casos clínicos raros". Não poderia ser mais errado. A Neuroftalmologia é feita de casos clinico de doencas comuns, frequentes. Neurite óptica, NOIA não arteritica e papiledema. Ocorre que elas podem se manifestar de forma atípica e assim parecer uma doença diferente e rara. "Doença não lê livro". |
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Um exemplo é a hipertensão intracraniana idiopática (HII) que acomete pacientes com mais de 50 anos de idade. Certamente, é um fator de confusão que pode fazer alguns colegas acreditarem que estão diante de uma doença rara. |
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O conhecimento é ainda a melhor arma contra a apresentação atípica das doenças. Por isso, trago com esta publicação as principais informações do artigo "Clinical Characteristics of Idiopathic Intracranial Hypertension in Patients Over 50 Years of Age: A multicenter clinical cohort study" (ref. 02). |
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Métodos: Grupo paciente: 65 pacientes com diagnóstico de HII com idade acima de 50 anos. Para o diagnóstico, foi usado o critério de Dandy modificado (ref. 03). Grupo controle: 65 pacientes com HII com idade abaixo de 50 anos. |
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Resultados: No grupo pacientes, a frequência de mulheres foi 78%; no grupo controle, 92% (p=0,04). No grupo paciente, a frequência de cefaleia no início do quadro foi menos frequente do que no grupo controle. Em geral, os pacientes foram mais assintomáticos o que levou a uma maior frequência do papiledema como achado de exame de rotina. |
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Comorbidades como hipertensão arterial e diabetes foram mais frequentes no grupo paciente do que no controle. |
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O prognóstico visual dos pacientes com idade > 50 anos não foi diferente do grupo controle baseado no grau de acometimento do campo visual e na frequência de pacientes que precisaram realizar fenestração da bainha do nervo óptico. |
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Discussão: Os autores concluem que os pacientes com HII com idade acima de 50 anos devem ser conduzido de forma similar aos pacientes mais jovens tendo em vista principalmente o prognóstico. Eles ressaltam o fato deles serem mais assintomáticos e isso causar atraso no diagnóstico. |
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Eu gostaria de fazer a seguinte ressalva: pacientes com idade acima dos 50 anos deve sempre ser investigado para causas secundárias de hipertensão intracraniana. O artigo não aprofunda esta questão. Esta é talvez a principal limitação do artigo. Não acho que é "impossível" hipertensão intracraniana idiopática acometer pessoas acima dos 50 anos. Entretanto, você deve esgotar a investigação de medicações e alteração do fluxo venoso cerebral. Para este último, é necessário angio RM. O artigo "Clinical Features of Late-Onset Pseudotumor Cerebri Fulfilling the Modified Dandy Criteria" alerta para esta questão e os autores sugeriram até uma modificação no critério de Dandy no sentido da angio-RM (ref. 04) e que foi atendida anos mais tarde pelo artigo já citado aqui (03). |
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Referências: 1.Friedman DI. Papilledema (chapter 05). In Miller, Neil R.; Newman, Nancy J. Walsh & Hoyt's Clinical Neuro-Ophthalmology, 6th Ed. 2. Downie PA et al. Clinical Characteristics of Idiopathic Intracranial Hypertension in Patients Over 50 Years of Age: A multicenter clinical cohort study. Am J Ophthalmol. 2021 Apr;224:96-101. Link PUBMED 3. Friedman D et al. Revised diagnostic criteria for the pseudotumor cerebri syndrome in adults and children. Neurology. 2013 Sep 24;81(13):1159-65. Link PUBMED 4. Bandyopadhyay S et al. Clinical features of late-onset pseudotumor cerebri fulfilling the modified dandy criteria. J Neuroophthalmol. 2002 Mar;22(1):9-11. Link PUBMED |
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